segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Múmias de Chauchilla

Túmulos abertos do cemitério pré-hispânico de Chauchilla,
a 30Km de Nasca, Peru

Atenção, pessoal! Quem não quiser ver as múmias pode pular esta postagem, pois vou mostrar fotos do enorme cemitério de Chauchilla, onde se encontram cerca de 200 túmulos da cultura Nasca.

O cemitério foi descoberto no início do século XX. Saqueadores levaram peças de cerâmica, tecidos e até algumas múmias. Atualmente, muitos túmulos encontram-se abertos, com uma cobertura de palha para proteger as múmias do sol.

Os nascas acreditavam na vida após a morte. Enterravam as múmias em posição fetal, para um futuro renascimento. Pessoas de poucas posses ficavam em túmulos individuais, com tudo de que poderiam dispor na próxima vida: alimentos, utensílios de cerâmica, ferramentas, instrumentos musicais. Os ricos também levavam consigo pertences valiosos, escravos e animais de estimação.

Assim é a superfície de um túmulo intacto

A tecelagem nasca atingiu um alto grau de desenvolvimento. Cada múmia era envolvida em dezenas de metros de tecido com ricas cores e padronagens. Depois era recoberta com um tecido de algodão cru. Por fim amarravam esse fardo funerário com cordas. Os ladrões de túmulos levavam o tecido precioso e abandonavam os corpos a céu aberto.

Todas as múmias têm o rosto voltado para o nascente

Múmia poderosa, com acompanhantes e mini milho pra viagem

As cores e franjas dos tecidos se conservaram

Um tecido nasca vale milhares de dólares no mercado negro

Há túmulos impressionantes com inimigos esquartejados, bebês vítimas de sacrifícios e até a múmia de um papagaio. Preferi não postar essas fotos, mas, para finalizar, aí vai uma prova da contribuição dos turistas ao cemitério de Chauchilla:

Fardo funerário intacto, com um pacote de salgadinho ao lado

O pacote de salgadinho está vazio, prova de que a múmia aceitou a oferenda moderna, comeu e voltou a dormir.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Réplica Nasca

Réplica resistente a maus-tratos aeroportuários

Os nascas, além de construtores de aquedutos e autores de geoglifos, foram mestres na arte da cerâmica. As peças verdadeiras apresentam brilho, colorido e motivos iguais aos da réplica acima. Na verdade, para fazer réplicas perfeitas, um artesão teve que pesquisar a tecnologia e os materiais que os nascas usaram entre os anos 100 e 600 a.C..

O governo peruano premiou esse trabalho, que se tornou um segredo de família.

Sete cores e pincéis feitos com cabelo de bebê

Os nascas usavam sete cores: branco (obtido do caulim branco), amarelo (do caulim amarelo), preto (do manganês negro), vermelho (do manganês vermelho), marrom (do óxido de ferro), verde (do óxido de cobre) e cinza (da mistura de manganês negro e caulim branco).

Sr. Tobi dando um show de competência e simpatia

Quem visitar a cidade de Nasca deve ir à casa do Sr. Tobi, filho do artesão/pesquisador que redescobriu as técnicas milenares da cerâmica nasca. Vai assistir a um show de cultura e poderá adquirir belas peças.

Atenção: contente-se com as réplicas. Não há peças originais à venda. Somente um falsificador ou um ladrão de museus e túmulos poderia oferecer uma "legítima" cerâmica nasca por umas centenas de dólares.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Sobrevoando as Linhas de Nasca

Certificado de sobrevivência ao sobrevoo

Foi no Natal de 2011 que formamos um grupo com japoneses, italianos e alguns hermanos de língua espanhola, para sobrevoar as linhas e figuras de Nasca. A dupla de pilotos explicou, ainda em terra, quais figuras seriam visitadas.

Nosso copiloto falava espanhol, italiano e japonês

Muitos de nós estiveram prestes a recorrer aos sacos plásticos

Todos recebemos mapinhas como este

Rodeamos duas vezes cada figura do mapa. A cada volta, o avião se inclinava 45 graus para um dos lados. Foram mais de 20 giros alternando direção, inclinação e altitude. Ai, meu São Dramin Vencido, quanta gente passou mal!

"Astronauta", "xamã" ou "homem com cabeça de coruja"?

Imagem pega na internet, com tratamento para maior nitidez

Nos livros sobre as Linhas de Nasca, as figuras aparecem mais nítidas, graças ao tratamento das imagens. Durante o sobrevoo, elas estão lá, visíveis, mas pouco claras para máquinas fotográficas comuns e filmadoras.

Quem quiser mais informações sobre as linhas pode ler meu artigo "Senhores turistas, apressem-se!", no Digestivo Cultural. Quem já leu sabe que deve ir visitá-las o mais rápido possível.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Aquedutos de Nasca

Trecho a céu aberto de um aqueduto com quase dois mil anos

Partindo de Lima, viajamos sete horas, de ônibus, por uma paisagem desértica, até a cidade de Nasca. Sem dúvida foi cansativo, porém não temos do que nos queixar. Era um ônibus de dois andares, confortável, com banheiro, ar-condicionado, comissária de bordo, DVD, comida deliciosa, dois motoristas se revezando... E não era exclusivo para turistas. Qualquer um pode ir à rodoviária de Lima, comprar a passagem e embarcar, mas antes precisa passar pela polícia, que vai pedir documentos (o R.G. brasileiro serve), revistar bolsas, mochilas e o próprio passageiro com um detetor de metal portátil.

Calma, que os procedimentos de segurança ainda não acabaram! Depois de todos os passageiros embarcados e em seus assentos, um policial entra com uma pequena câmera digital e filma um por um.

Parece opressivo? Não é. A polícia peruana é simpática com os turistas. Quando entendi que esse procedimento se repetiria em todos os ônibus intermunicipais que eu tomasse, fiquei à vontade e até dei tchauzinho pra câmera. O policial morreu de rir.

Graças a aquedutos subterrâneos, construídos pela engenhosa civilização Nasca, a atual cidade de Nasca sobrevive. Esses aquedutos têm alguns trechos a céu aberto, depois mergulham novamente no subsolo, para evitar que a água se perca por evaporação. Nunca seguem em linha reta, mas de forma levemente sinuosa, para diminuir a velocidade da água em épocas de cheia. As paredes são inclinadas para fora, para resistir a terremotos.

A água é tão limpa que tem peixinhos nadando em todo o percurso

Água e peixes voltando pra dentro da terra

Para ventilar a água em sua lenta viagem subterrânea, os Nascas construíram muitos poços em formato de caracol. É possível caminhar pelos aquedutos, indo por baixo da terra, de um poço a outro.

Um dos muitos poços em caracol

Outro poço para manter a água fresca

Descendo à boca do poço, pra ver os peixes tomando sol. :)

Esta madeira nunca precisou ser reposta. Virou pedra.

Lamento informar que turistas não podem andar por dentro dos aquedutos. É compreensível. Eu também não ia gostar que um monte de gente pisasse na minha água e tropeçasse nos meus peixes. Somente os funcionários encarregados de manter os dutos limpos fazem esse passeio de vez em quando.

Os poços vistos pelo satélite. Foto do Google Earth.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Túmulo e Catacumbas

Eis o túmulo que só respeitei por estar dentro da igreja

Dentro da Catedral de Lima, tive o desprazer de encontrar o túmulo de um monstro. A placa dizia algo como:

Aqui jaz o marquês governador Dom Francisco Pizarro, Conquistador do Peru e fundador de Lima.
Nasceu em Trujillo, Extremadura, Espanha, em 1478 e morreu em Lima no dia 26 de junho de 1541. 
O Cabido Metropolitano trasladou para cá seus restos mortais em 18 de janeiro de 1985, no 450o aniversário de fundação da cidade.
Deus o tenha em sua glória. Amém!

Deus o tenha nas profundezas dos infernos, isso sim! Com o apoio da Igreja e da Espanha, Pizarro nada ficou a dever para Hitler em termos de genocídio, tortura e roubo.

Mas chega desse bastardo Pizarro! Vamos agora visitar mortos menos prestigiados e mais inocentes no Convento de San Francisco, ainda em Lima.

Igreja diferente? Espere pra ver as catacumbas.

Nas catacumbas do convento, encontram-se os restos mortais de 25.000 moradores da antiga capital. Nada de múmias, apenas ossos e mais ossos (sequinhos, separados e organizados por arqueólogos com um senso artístico meio mórbido).

Entrada para as catacumbas. Cuidado, o teto é baixo!

Os turistas passam por milhares de fêmures, crânios, vértebras, ossos das mãos, dos pés... cada osso no seu setor.

Não há mau cheiro, mas seria fácil perder-se nesse labirinto

Sem saída. Reze para encontrar o caminho. :)

A esquisitice dos arqueólogos chega ao auge num recinto circular, onde decidem criar uma espécie de instalação artística com jeito de mandala óssea.

Nessa altura, já tem turista passando mal, com claustrofobia

Sem dúvida, é um lugar estranho, mas vale a visita. Ninguém entra sem um guia. Os caminhos são bem iluminados e ventilados. Somente os claustrofóbicos, que entram em pânico e saem correndo sozinhos, conseguem se perder por 30 torturantes segundos, até um guia alcançá-los e levá-los para fora.